quarta-feira, 10 de junho de 2009

Memorial



Anos Dourados

Minha história de leitura é algo estranhamente fascinante ao tempo em que se ofusca enleio a escola e minha vida pessoal. Não recordo, no momento, qualquer atitude vivenciada em sala de aula durante o ensino fundamental relacionada à leitura de livros ou de outras linguagens que marcaram de algum modo minha história. Mas, lembro-me com peculiar sabor das brincadeiras de casinha com meus irmãos e amigos no quintal de minha casa no interior do Piauí, onde tínhamos momento para tudo: hora da escola, do show, de ir para a roça. Ah!!! como era maravilhoso!!! Na escola, eu era a professora; no Show, uma das cantoras, na roça, a mãe que ia deixar comida aos filhos e esposo. Fazia tudo isso sem se dar conta de que tudo aquilo era na verdade uma leitura de mundo que fazíamos, pois representávamos ao nosso estilo moleque a vida simples que tínhamos.
No ensino médio, meu contato com a leitura e com a comunidade escolar foram um tanto indiferente à criticidede e à criatividade. Sempre estudei em escola pública, lia conteúdos para provas, mas não refletia sobre a importância deles para a minha vida. Eu era um pouco Macabéa, ou seja, alheia às intervenções na escola e na sociedade. Mesmo assim, gostava de meus professores e me ralacionava bem com alguns colegas de sala, vigias e zeladoras. Eles eram muito legais!
Um surto de conscientização. Essa é a frase mais adequada para expressar a travessia da minha educação básica para o ensino superior quando o ponto é leitura e intervenção. Fiz Licenciatura Plena em Letras Português na Universidade Federal da Paraíba, lá sim li bastante, interagi com uma diversidade de linguagens, saberes, culturas. Tudo era encantador: o clima, os pombos das praças, os movimentos estudantis, as festas populares, as manifestações artísticas, a sala de aula. Meus professores eram surpreendentemente bons e comprometidos com o desempenho comunicativo e político de seus alunos.
Tive três professores na graduação que foram diretamente responsáveis pela minha história de leitura: Maria Auxiliadora Bezerra, Marcus Agra, Inês Singnhorin. Eles embriagavam-me com a abordagem de leituras que faziam sobre os livros que liam e que sugeriam-me. Passávamos aulas a fio comentando sobre os livros de Angela Kleiman, Ingedore Villaça Koch, Maria Helena Martins, Margarida Basílio, Luiz Carlos Travaglia, Mário Perini, Luis Antônio Marcuschi, Angela Paiva Dionísio, Magda Soares, Nelson Werneck Sodré, Nelly Novais Coelho, Afrânio Coutinho,
Ariano Suassuna, Rubem Fonseca, Érico Verríssimo, Drumond, Fernando Pessoa, Camões, Clarice Lispector, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto e tantos outros. Especialmente com esses mestres, despertei para o mundo ilimitado da leitura. Descobri o quanto precisamos ler muito tudo o que esta envolto o tempo todo, sem preconceito e desprovido daquela velha opinião formada sobre tudo.
Sendo leitora, comparo-me hoje a um peixe que busca as reminiscências do mar onde se esconde o mistério. Tenho multiplos olhares em tudo que leio, e esse é o grande barato no processo de leituras, principalmente quando a linguagem é simbólica, sugestiva, democrática como é a linguagem da arte.

Um comentário:

  1. Nossa! Quanta boa leitura! Ontem comprei a fotobiografia de Clarice, minha preferida, e o Dicionário das mulheres do Brasil - ótimos!
    Também comprei o Caligrafia de Dona Sofia, de André Neves. Vale a pena, viu? É infanto-juvenil, maravilhoso! rs. Eu sou viciada em livros.

    Beijos

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